A experiência de se enlamear - Dia 22\02

"A Igreja em saída é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido. Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo. pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho. (EG 46)


                        Final de semana de muita chuva em Óbidos, e fim de semana cheio. No Sábado debaixo de muita chuva realizamos a formação para os catequistas, mais de 50 pessoas participaram deste momento tão rico. No Domingo, a chuva não deu trégua, e era o dia tão esperado aqui na Paróquia, pois marcamos a abertura oficial da CF 2015 com uma grande caminhada pelas ruas da cidade. Claro que essa chuva de dois dias prejudicou muito a participação de muitas pessoas na caminhada, principalmente as nossas comunidades do interior. Com a forte e constante chuva  que caiu as estradas ficam praticamente impossibilitada de serem utilizadas, impedindo assim  que as pessoas transitassem por elas.  
                Mas essa chuva não impediu que a caminhada acontece-se, com a participação de crianças, jovens, adultos e até idosos. A concentração aconteceu na comunidade São José Operário, que preparou com muito carinho o espaço para acolher a todos. Durante a caminhada as pessoas levavam cartazes e faixas e iam refletindo o tema da CF deste ano; Fraternidade: Igreja e Sociedade. E o lema; "Eu vim para servir". Durante a caminhada muitas pessoas observam das casas demonstrando a adesão a iniciativa, a comunidade Cristo é o Senhor nos esperava em sua Igreja e também se juntou nessa grande macha.  Até mesmo o Bispo Diocesano não teve medo da forte chuva e caminhou junto com os fieis.
      Ao chegarmos na Igreja de Santa Terezinha aconteceu uma solene celebração presidida pelo próprio Bispo Diocesano Dom Bernardo. Após a missa aconteceu uma grande festa pela ocasião do aniversário de ordenação do Pe; José Mauricio. 
        Foi um dia cheio, mas rico em grandes lições. Primeiramente foi contagiante a animação de algumas pessoas com a caminhada mesmo com toda a chuva, em especial da Irmã Adriana, que em nenhum momento pensou ou manifestou seu pensamento em não acontecer a caminhada, sempre afirmando que iria acontecer, foi uma atitude firme e contagiante. A caminhada também foi marcante, principalmente pela simplicidade e humildade de tudo, mas algo que me chamou muito atenção foi as ruas que passamos, sempre ruas com muito barro, era impossível não ficar enlameado. Chegamos na Igreja com muito barro, e foi impossível deixar de recordar a famosa frase do Papa Francisco na Evangelii Gaudium; "Prefiro uma Igreja acidentada, ferida, enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças."  

        Termino o dia muito cansado, mas muito realizado pois tivemos a coragem de deixar a comodidade de ficarmos em casa neste dia chuvoso e fomos para ruas, colocamos os pés na lama. Que essa nossa simples atitude nos ajude a entender o desejo do nosso santo padre para que sejamos uma Igreja que não fica esperando, mas que vai ao encontro. E aqui nessa terra abençoada por Deus vejo isso de maneira muito clara, temos muitas pessoas distante da Igreja, mas que precisam de nós. Pessoas que não tem uma real condição de sobreviver, não tem saneamento básico, não tem direto a saúde, a educação, não tem direito de ter uma moradia descente para uma família. E essas pessoas estão a margem, sem direito a voz nem vez, e precisam de nós. Este ano a CF nos traz o tema da "fraternidade; Igreja e Sociedade", e uma sociedade é sociedade quando todos participam do conviver, do decidir e não permitem a exclusão de uma pessoa. 
          O Concílio Ecumênico Vaticano II recordou que a igreja é Reino de Deus, Povo de Deus. Assim, é o novo Povo de Deus. Os cristãos, como participantes da sociedade, levam seus valores e compromissos, ajudam a construir uma sociedade justa e de paz. A Igreja, as comunidades de fé, os cristãos, são ativos na sociedade. Eles, pelo diálogo e caridade, cuidam dos excluídos da sociedade. Sendo assim espero que simples atitudes como a de hoje, nos leve a compreender isso, que possamos gritar por aqueles que não tem força de gritar, e assim possamos buscar uma sociedade mais digna, com justiça, paz e igualdade. 



        






Uma catequese sobre o itinerário catecumenal - Dia 21\02

"Um coração missionário está consciente destas limitações. fazendo-se 'fraco com os fracos' (...) e tudo para todos' (1cor 9,22). Nunca se fecha, nunca se refugia nas próprias seguranças, nunca opta pela rigidez auto-defensiva. Sabe que ele mesmo deve crescer na compreensão do Evangelho e no discernimento das sendas do Espírito, e assim não renuncia ao bem possível, ainda que corra o risco de sujar-se com a lama da estrada. (EG 45) 

            Essa semana recebi o convite para participar de uma formação para o grupo de catequistas, formação que aconteceu neste sábado. Esse convite me possibilitou a graça de estudar e refletir essa tão importante pastoral de nossa Igreja, confesso que fiquei horas em cima de livros e materiais, alguns dias até saiu fumaça de minha cabeça, rsrs, mais foi uma semana abençoada. Sou muito grato a Deus, e pela equipe da minha Paróquia de São Martinho de Lima  por essa oportunidade que me concedeu.              Foi maravilhoso realizar este estudo e essa formação, me senti como uma criança que ganha um novo brinquedo, pois tudo para mim foi novidade.
                  A Diocese de Óbidos, assim como tantas outras em nosso País, vem buscando uma renovação desta pastoral partindo dos recentes documentos da Igreja que falam da “iniciação à vida cristã”. A proposta é de um processo catequético, por etapas, que ajuda a introduzir os catequizandos nos mistérios da fé fazendo-os entrar num novo jeito de ser e viver a vida. Com certeza nos temos pela frente o emocionante desafio de promover uma catequese mais evangelizadora, celebrativa, orante e vivencial, sem deixar de lado a dimensão doutrinal. A proposta apresentada é de um caminho para a iniciação à vida cristã,  o catecumenato. Ou seja, uma catequese catecumenal, onde é feito um caminho para a interação entre anúncio, celebração litúrgica e vivência da fé.
            A catequese hoje quer recuperar o catecumenato como “modelo inspirador” de toda catequese, quer seja pré como pós-batismal, como processo que leva à verdadeira iniciação cristã e a uma forte experiência da fé cristã. O catecumenato oferece uma dinâmica especial à catequese porque é um “processo formativo e verdadeira escola de fé”. De fato nele encontramos uma intensidade e integridade de formação, gradualidade, etapas definidas, forte presença da comunidade e, de um modo especial, o uso da linguagem ritual, simbólica e dos sinais, veiculados particularmente na Bíblia e na Liturgia. 
          Muito mais do que uma preparação para os sacramentos, o catecumenato visa realizar a plena iniciação cristã. Através deste processo catecumenal o Espírito Santo vai agindo pelos gestos e ações da Igreja, que, deste modo vai gerando novos filhos, exercendo sua maternidade espiritual.
          A formação contou com 50 pessoas de nossa Paróquia, foi um momento muito rico e forte, onde programamos os passos que daremos neste ano nessa implantação da catequese com este itinerário catecumenal, além disso também realizamos um estudo, muito bem ministrado pela Irmã Adriana sobe a liturgia.  



O Mascarado Fobó - Dia 16\02

"Isto possui uma grande relevância no anúncio do Evangelho, se temos verdadeiramente a peito fazer perceber melhor a sua beleza e fazê-lo acolher por todos. Em todo o caso, não poderemos jamais tornar os ensinamentos da Igreja uma realidade facilmente compreensível e felizmente apreciada por todos; a fé conserva sempre um aspecto de cruz, firmeza à sua adesão. (EG 42)


Estes dias tenho tentando acompanhar o carnaval de Óbidos e assim conhecer e entender um pouco da cultura local. Hoje foi a apresentação do bloco unidos do morro, e este bloco diferencia-se dos demais pelas quantidades de pessoas vestidas de mascarado fobó,  principal simbolo cultural deste carnaval, por sinal é até reconhecido como patrimônio cultural do Pará. Percebi que o objetivo principal em se vestir de mascarado fobó é não ser reconhecido pelos outros foliões, ou como eles falam por aqui, é não se "manjar". Se eles forem reconhecidos ele é desmascarado, ou "manjado". Os foliões mascarados tem como objetivo não serem reconhecidos até o fim do bloco, se isso acontecer eles repetem a roupa no dia seguinte, caso seja desmascarados, eles devem no dia seguinte escolher outro dominó e outra máscara.  
O adereço tradicional do mascarado fobó é composta por capacete colorido, a máscara confeccionada artesanalmente, ou então mascaras de borrachas , a bexiga de boi, o dominó (roupa tipo macacão de florão), e claro o elemento essencial da diversão, a maisena, que é usada na “batalha de pó”, travada entre os brincantes dos blocos.
Com certeza o Mascarado Fobó é a estrela cultural maior do carnaval obidense, vendo isso procurei  buscar entender a origem dessa tradição, e percebi que não existe uma origem bem explicada.
A explicação mais comum que se tem por aqui, copiada em praticamente todos os sites que vi da cidade, diz que o Fobó “é um misto de risos, medo, admiração e alegria; ora causa espanto às crianças que o temem por suas bexigas, ora causa risos, mas também, aguça a ira das pessoas que, banhadas em suas portas ou nas esquinas, recebem do Fobó polvilhadas de Maisena”.
Mas encontrei uma explicação interessante dada pelo Rômuldo Viana. Ele explica que a provável origem do nome Fobó vem de terras de muito além-mar e nos conduz ao mito grego do deus Fobos (Phobos = medo), filho de Ares (Marte), o deus da guerra.
Narra o mito que os soldados usavam a figura de Fobos nos escudos nos campos de batalha para assustar os inimigos. Nessa origem do nome entende-se  o mascarado fobó, um misto de “palhaço alegórico” que, no embalo das marchinhas de carnaval, ao mesmo tempo, assusta e causa espanto.
Parece não haver na literatura escrita obidense fatos que comprovem a origem do misterioso personagem. Tudo o que se sabe hoje advém do conhecimento coletivo que ao longo dos anos vem sendo transmitido aos mais novos.
Uma outra possibilidade da origem do mascarado fobó vem da cultura popular da cidade irmã portuguesa, pois lá existe um parentesco cultural com o Mascarado Fobó daqui com o seu Careto: personagem que utiliza máscara confeccionada de madeira.
Teria então nosso folião chegado em terras amazônicas por meio da difusão cultural portuguesa que se teve por aqui com a chegada dos primeiros colonizadores?
Sem a certeza da origem desse personagem, certo mesmo é que o Mascarado Fobó ainda vive na cultura do carnaval obidense, o CARNAPAUXIS.





  

Domingo de Carnaval - Alegria e natureza - 15\02

"Deste modo, somos fiéis a uma formulação, mas não transmitimos a substância. Este é o risco mais grave. Lembremo-nos de que 'a expressão de verdade pode ser multiforme. E a renovação  das formas de expressão torna-se necessária para transmitir ao homem de hoje a mensagem evangélica no seu significado imutável. (EG 41)

          Neste Domingo de carnaval, o maior dia do carnaval em Óbidos, dia que desfilou o bloco, "xupa osso", este nome tem origem no apelido dado aos filhos de Óbidos. O apelido surgiu no final da década de 60 quando o empresário Sr. Isaac Hamoy exportava osso para os Estado Unidos e a maioria dos obidenses vendiam osso ao referido empresário. Esse apelido foi dado pelo município vizinho a cidade de Oriximiná.
        O Bloco Xupa Osso este ano teve como tema “Alegria, Amor e Carnaval” e alegrou os foliões que saíram no bloco, fazendo um longo percursos pelas ruas enladeiradas da cidade de Óbidos. É encantador os mascarados, os cordões carnavalescos, as marchinhas, o Frevo, os trios Elétricos, é uma alegria contagiante. 
       Mas meu domingo também teve muito da presença da natureza. Tive a oportunidade de celebrar em três comunidades do interior, Sucuriju, Arapucu e Curumu, e como é maravilhoso celebrar nessas capelas tendo a visão dos lagos e rios da região, tenho certeza que são imagens que nunca mais esquecerei, são vilarejos que são verdeiros paraísos. 
       Após as celebrações, e do delicioso almoço tive a oportunidade de me refrescar do forte calor deste dia na cachoeira do Curumu, mais um lugar encantador, maravilhoso. Cercado pelo verde, só de chegar ao local você sente uma grande paz com o som das águas, a tranquilidade é  ainda maior quando você entra na água, de maneira especial debaixo da queda d'água. 
Foi mais um dia abençoado neste grande paraíso que é a amazônia. 

Confira o vídeo do bloco xupa osso:









Carnapauxis: a festa do Mascarado Fobó - Dia 12\02

"As diversas linhas de pensamento filosófico, teológico e pastoral, se deixam harmonizar pelo Espírito no respeito e no amor, podem fazer crescer a Igreja, enquanto ajudam a explicitar melhor o tesouro riquíssimo da Palavra. A quantos sonham com uma doutrina monolítica defendida sem nuances por todos, isto poderá parecer uma dispersão imperfeita; mas a realidade é que tal variedade ajuda a manifestar e desenvolver melhor os diversos aspectos da riqueza inesgotável do Evangelho. (EG 40) 


            Óbidos é uma cidade histórica, cercado com “casarios” erguidos ao longo de seus 317 anos, constituídos de um conjunto arquitetônico de valor histórico, com descrições históricas, arquitetônicas, sociais, políticas e culturais de sua época. Desde que cheguei aqui o pré-carnaval me chamou atenção, todos Domingo e
Segunda-feira via uma multidão seguindo os blocos, com muita alegria e animação, além é claro, com muita maizena.
             Ontem foi a abertura oficial do carnaval da cidade, o famoso Carnapauxis  que é uma das principais atrações turísticas da cidade, atraindo muitas pessoas. O Carnapauxis –  A  Festa do Mascarado Fobó - é uma das folias mais originais e animadas da região, que é referência no calendário turístico do Pará, como também é Patrimônio Cultural do Pará, é considerado o maior carnaval de rua da Amazônia. A animação dos foliões ganha às ruas estreitas de Óbidos, ao ritmo das músicas feitas especialmente para os blocos e
das antigas marchas de carnaval. 
      No Carnapauxis, o Mascarado Fobó se tornou o símbolo maior. Com toda a sua indumentária composta por capacete colorido, a máscara confeccionada artesanalmente, a bexiga de boi, o dominó (roupa tipo macacão de florão), além é claro do elemento essencial da diversão, a Maizena, que é usada na “batalha de pó”, travada entre os brincantes dos blocos.
  O Carnapauxis, conta com toda uma infraestrutura especialmente montada para o evento e consegue atrair um público muito grande. Existem diversos blocos, dentre os quais não-oficiais e oficiais. Com relação aos primeiros têm-se registrado a tradição dos seguintes: Bloco do Tinga, o Bloco Cabeça do Padre, Bloco do Flamengo, Bloco Tubo e Conexões, Bloco Pau-te-Acha e o Bloco do Dedão, o Bloco dos Alhos e mais recentemente o Bloco Pai da Pinga, que sai toda segunda feira no pré-carnapauxis.
Os  Blocos Oficiais  são sete que vêm se apresentando no Desfile Oficial do Carnapauxis: Bloco Vai ou racha, que se apresentou ontem na abertura oficial, Mirim Unidos do Umarizal, que se apresentará hoje, Bloco Unidos da Serra da Escama, Bloco Águia Negra, Bloco Xupa Osso, Bloco Unidos do Morro e Bloco das Virgens ; cada um com seu traço característico que o diferencia dos outros, mas que conserva a linha do tradicional, resgatando as lembranças dos pierrôs e columbinas, principalmente na figura do Mascarado Fobó, que estão presentes em todos os blocos, e nas músicas escritas em marchinhas que denotam seus enredos, dando o tom característico ao Carnapauxis. 
                 Conversando com pessoas daqui, me contaram que a tradição do carnaval em Óbidos foi uma herança  deixada pelos colonizadores portugueses, no século passado, onde as famílias tradicionais da cidade realizavam os “entrudos” – batalha entre famílias munidas de fuligem de panela, farinha de trigo e tinta para “atacar” os transeuntes. Daí  a tradição da maizena, Durante um longo período, que começou no final da década de 70 até o ano de 1997, o carnaval desapareceu na cidade, devido a um grande crise política-econômica. Mas o retorno aconteceu em 1997 e a tradição e a cultura do povo obidense fez ressurgir os “blocos de mascarados” que hoje animam o carnaval e atraem milhares de pessoas de diferentes regiões do Estado e até mesmo de outras capitais brasileiras.
Assim é o Carnapauxis, com toda sua raiz histórica que hoje anima os foliões obidenses. 
Que todos possam aproveitar o máximo o carnapauxis, pois como fiz Dom Helder Câmera, "O carnaval é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. (...) Brinque meu povo, povo querido. Minha gente queridíssima. É verdade que quarta-feira a luta recomeça, mas, ao menos, se pôs um pouco de sonho na realidade dura da vida"!  

Maria, modelo da Igreja servidora - Dia 11\02

"A Igreja, que é discípula missionária, tem necessidade de crescer na sua interpretação da Palavra revelada e na sua compreensão da verdade. A tarefa dos exegetas e teólogos ajuda a 'amadurecer o juízo da Igreja'. Embora de modo diferente, fazem-no também as outras ciências. (...) Além disso, dentro da Igreja, há inúmeras questões à volta das quais se indaga e reflete com grande liberdade. (EG 40)  

Esse blog é para partilhar a minha experiência missionária em Óbidos, coração da amazônia.  Mas neste dia 11\02, dia que celebramos Nossa Senhora de Lourdes, padroeira de minha paróquia de origem, em Juiz de Fora\MG, estarei abrindo uma exceção para partilhar sobre o tema da festa dessa paróquia. 
O tema da festividade deste ano é: “Maria, modelo da Igreja servidora” e o lema: “Eis aqui a serva do Senhor” (Lc 1,37). Foi pensando este tema em sintonia com a Campanha da Fraternidade, que tem como tema “Fraternidade: Igreja e sociedade” e o lema: “eu vim para servir” (Mc 10,45). 
Meditando o tema iremos perceber que Maria quer nos recordar que o amor é o mais profundo e significativo sentimento, e que ele se expressa no serviço. Assim, mostra-nos, com seus exemplos, que a Igreja é e quer ser a servidora dos homens.
É fácil, falar de amor e caridade, mas muito difícil vivê-los, porque amar significa servir e servir exige renunciar a si mesmo. Se não fosse assim, estaríamos no paraíso, já que todos os homens e todos os cristãos estão de acordo em cantar as belezas do amor. Entretanto, continua havendo guerras, injustiças sociais, perseguições políticas no mundo. Isso acontece, porque amar e servir custam.
Mas o que é servir? Jesus mesmo explica: servir é dar sua vida pelos outros, é entregar-se aos demais. Servir é dar-se de si mesmo, entregando ao outro a nossa preocupação, nosso tempo e nosso amor.
 Serve a mulher que passa, até tarde, a camisa que seu marido necessita ou que passa a noite junto ao filho enfermo. Serve quem desliga a televisão, durante a novela, para receber o vizinho e escutar seus problemas. Serve quem renuncia algumas horas de descanso para passear com seus filhos, para participar de uma reunião na Igreja.
Nós, muitas vezes, cremos que estamos servindo a Deus, porque fazemos uma oração ou cumprimos uma promessa. Olhemos para Maria. Ela nos entrega toda sua vida para cumprir a tarefa que o Senhor lhe encomenda pelo anjo. Maria sabe, por meio do anjo, que seu Filho será o Rei do universo, e de Isabel só o seu precursor. Mas é ela quem corre até onde vivia sua prima; ela não busca pretextos por estar grávida e, assim, não poder arriscar-se numa viagem tão longa.
Quando o anjo lhe anuncia que ela será a Mãe de Deus, Maria compreende que esta vocação exige que ela se converta na primeira servidora de Deus e dos homens.
Sacrifício e serviço. Para poder construir um mundo novo, desejado de todos, é necessário muito espírito de Cristo e de Maria. Deve ser um serviço que busca, realmente, nossa entrega aos demais.
Peçamos a Maria que nos ajude a construir uma Igreja conforme sua imagem, uma Igreja servidora dos homens, que seja, realmente, a alma de um país melhor.
Nossa Senhora de Lourdes, rogai por todos nós!

O abraço de Deus - Dia 08\02

"Tal como existe uma unidade orgânica entre virtudes que impede de excluir qualquer uma delas do ideal cristão, assim também nenhuma verdade é negada. Não é preciso mutilar a integridade da mensagem do Evangelho. Além disso, cada verdade entende-se melhor se a colocarmos em relação com a totalidade harmoniosa da mensagem cristã; e, neste contexto, todas as verdades têm a sua própria importância e iluminam-se reciprocamente. (EG 39)  
   
     

  Neste Domingo tive a oportunidade de conhecer mais uma comunidade da Paróquia. A comunidade de São José Operário, que fica na área urbana de Óbidos, pelo menos na teoria e  localização fica na área urbana, pois se partirmos da definição de área urbana sendo o espaço ocupado por uma cidade, caracterizado pela edificação contínua e pela existência de infraestrutura urbana, que compreende ao conjunto de serviços públicos que possibilitam a vida da população, como o abastecimento de água, serviços de esgoto, fornecimento de energia elétrica, escolas, hospitais, sistema viário, policiamento, locais de lazer etc, partindo dessa definição, São José Operário não tem nada de urbano. É um bairro onde não se tem água, a população depende de carros pipas, um bairro onde não tem energia, a não ser os famosos gatos, que por sinal corresponde um grande perigo para os moradores, é um bairro onde rede esgoto também não existe, um bairro onde as terras é de quem chegar primeiro, por sinal hoje vi essa cena, ao chegar no bairro me deparei com uma parte da pista marcada por estacas de madeiras, na noite anterior alguém marcou esse espaço, para garantir um terreno. Depois vi vários moradores arrancando as estacas, por não aceitar essa invasão, é um bairro
completamente abandonado pelo poder público. É neste bairro que morava “a princesa”, é nessas condições que esse anjinho tentou sobreviver. E foi neste bairro, que hoje recebi um apertado abraço de Deus. 

         Essa comunidade não tem capela, apenas um espaço para celebração, e a maior participação são das crianças, hoje tinha um grande número. Durante toda a celebração fiquei observando uma criança, deveria ter uns 5 anos que não tirava os olhos de mim, seguia todos os meus movimentos, após a celebração, quando me despedia de todos ela correu ao meu encontro, com um grande sorriso no rosto me deu um forte abraço, um abraço muito sincero, muito verdadeiro, me senti muito seguro naquele abraço, a vontade era de ficar ali dentro daqueles bracinhos pequenos, mas  ao mesmo tempo tão fortes, como se, por magia, o tempo parasse, e ficasse protegido de tudo o que me ameaça fora do abraço quentinho daquela criança. De fato abraçar uma criança é como abraçar o Mundo.
 É abraçar a ternura, a doçura, a pureza, o amor incondicional. Após aquele longo abraço sair da comunidade na certeza que hoje tive um encontro pessoal com Deus, e posso afirmar que o sorriso de Deus é lindo, que ele nos abraça muito forte, que seu colo é aconchegante e acolhedor.












Um grande reencontro - Dia 07\02

"É importante tirar as consequências pastorais desta doutrina conciliar, que recolhe uma antiga convicção da Igreja. Antes de mais nada,  deve-se dizer que, no anúncio do Evangelho, é necessário que haja uma proporção adequada. Esta reconhece-se na frequência   com que se mencionam alguns temas e nas acentuações postas na pregação."  (EG 38)   


Assim que confirmou minha vinda para Óbidos, logo procurei me informar sobre o trabalho da juventude da Diocese. Na busca de informações descobri que a Pastoral da Juventude tem uma grande força nessa Diocese, e desde então fiquei bem ansioso para reencontrar essa Pastoral, que tem grande importância em minha vida e na minha formação.
Após quase um mês nessa terra, finalmente este encontro aconteceu. Tive a oportunidade de participar durante este dia da formação de assessores da PJ da Diocese. E foi um momento forte e muito importante. 
Ao rever a bandeira da PJ, os livros referenciais, a oração do oficio divino das comunidades, os cantos, que expressam tanto a luta de um povo por libertação, ao escutar a assessora e a reação dos jovens e dos assessores,tudo isso me levou a reacender a chama pejoteira. Após este grande momento, fica ainda maus forte para mim que a Pastoral da Juventude reinventa caminhos, cria oportunidades, abre as portas para o diálogo e mantém viva sua memória. O grito dessa juventude é o grito da Igreja.
Como foi maravilhoso escutar esses jovens, perceber a preocupação com o mundo do crack e das drogas em geral, da violência, das fragilidades formativas, dos esvaziamentos familiares e do isolamento, como fica forte a preocupação em ter iniciativas, a defesa pela vida e a preocupação com o meio ambiente. Foi muito bom participar dessa formação, perceber a preocupação em reinventar essa pastoral. Tenho total consciência dos desafios da PJ, de suas dificuldades, de suas sombras. Como foi maravilhoso perceber que aqui, nessa terra abençoada por Deus, esses jovens tem a preocupação em buscar formar mais jovens para que estejam bem preparados para enfrentar os grandes vazios de nossa sociedade que o princípio do não compromisso gerou. Que bom perceber preocupação em preparar as bases para firmar o alicerce, afinal, a construção de um outro mundo possível está apenas começando. Isso é Pastoral da Juventude. 
Obrigado Senhor, pela oportunidade de reencontrar essa linda pastoral!!!



Paraíso terrestre - Dia 05\02

"Todas as verdades reveladas procedem da mesma fonte divina e são acreditadas com a mesma fé, mas algumas delas são mais importantes por exprimir mais diretamente o coração do Evangelho. Neste núcleo fundamental, o que sobressai é a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado. (...) Isto é válido tanto para os dogmas da fé como para o conjunto dos ensinamentos da Igreja, incluindo a doutrina moral. (EG 36) 


A missão é mesmo desafiadora, encantadora e cheio de surpresas. Você chega vazio, pronto para se lançar em uma nova realidade, e muitas vezes você enfrenta desafios que nem poderia imaginar, o que a princípio parecia o mais simples, o ponto mais positivo se torna o maior desafio, a grande dificuldade que você tem que enfrentar diariamente. 
E no meio desse desafio diário você tem que saber como encarar, como olhar. Sempre existe várias formas de olhar, de analisar a situação, você pode ficar com o olhar fixo na dificuldade, no desafio, no problema, ou pode desviar o olhar e fixar o olhos para as riquezas da missão, para seu encanto e beleza. E quanta beleza existe aqui na Amazônia, que me faz até confundir com o paraíso.
Neste dia tive a oportunidade de visitar duas comunidades, a comunidade Nossa Senhora Aparecida, que fica no Jurupari e a comunidade Nossa Sra. De Fátima, no Curumu. Pela primeira vez tive que enfrentar um dos meus medos, tive que entrar em um pequeno barco de madeira, do tipo rabeta, aqueles bem pequenos, com motor, ao entrar na rabeta ela balança toda, parece que irá afundar. Mas encarei o desafio, afinal essa era a única forma de chegar a comunidade. Fomos muito bem acolhidos, é impressionante a simplicidade desse povo, e como isso encanta, o quanto me sinto bem e a vontade no meio deles. Essa comunidade é nova, tem cerca de um ano, eles moravam em outra margem do Rio, só que mudaram, pois acharam o
atual lugar melhor, é uma comunidade que tem em média 20 casas, em um lugar encantador.
Durante a viagem de barco, refleti muito sobre o livro de Genesis, de maneira especial na obra da criação. O Senhor fez, como sábio jardineiro, o projeto para preparar uma casa digna e bonita para o ser humano, que é a obra prima de sua criação. Principalmente os dois primeiros  capítulos de Gêneses, tem uma beleza única, uma poesia que nos transporta para fora da nossa realidade e nos obriga a dobrar os joelhos numa atitude de adoração.  Ele nos leva a exclamar para nós mesmos e para todos: como Deus é grande, como é bom e como Ele pensou em tudo! E ao andar por essa terra faz crescer em mim ainda mais essa adoração pelo Criador. Aqui nessa terra abençoada por Deus não podemos ficar insensíveis diante da beleza de Deus, que não pode simplesmente ser imitada, mas sim caricaturada e nada mais. É o mesmo Jesus que nos convida a reaproximar-nos da natureza para louvar e bendizer: "olhai os lírios do campo, as flores; nem Salomão em toda a sua grandeza poderia se vestir tão magnificamente".
 A Amazônia é o último recanto do paraíso terrestre onde o ser humano destruidor e ganancioso ainda não conseguiu chegar plenamente para tudo derrubar. Nós somos "suicidas" por instinto, acreditamos que nos manteremos melhor em vida destruindo as árvores e animais, mas, na verdade, a cada planta que se destrói, abrimos diante de nós a cova que um dia nos irá engolir. A Amazônia é céu, é paraíso terrestre onde Deus, no centro, colocou as plantas com frutos proibidos e águas que não podem ser contaminadas.
Após passar toda a tarde neste “céu” atravessei novamente o rio, curtindo um espetáculo da natureza,  o pôr do sol, tenho certeza que são imagens que levarei para o resto de minha vida. A noite celebramos com a outra comunidade, de Nossa Sra de Fátima. Ao retornar para casa voltei adorando o Criador de todo este paraíso, e mais certo do que nunca que temos que defender esse paraíso  terrestre.



O caos da saúde pública e a esperança - Dia 02\02

"Uma identificação dos fins, sem uma condigna busca comunitária dos meios para os  alcançar, está condenada a traduzir-se em mera fantasia. A todos exorto a aplicarem, com generosidade e coragem, as orientações deste documento, sem impedimentos nem receios. Importante é não caminhar sozinho, mas ter sempre em conta os irmãos e, de modo especial, a guia dos Bispos, num discernimento pastoral sábio e realista. (EG 33)

          Segunda-feira chuvosa em Óbidos, uma chuva fina, com um ventinho gostoso....Fez-me até lembrar a temperatura de Minas, finalmente um dia por aqui sem ligar o ar condicionado do quarto.
          Neste dia de temperatura ideal para mim, pois para o povo daqui um dia bem frio, recebemos a visita do Bispo Diocesano, juntamente com três religiosas da Congregação das Pequenas Missionárias Eucarísticas, as Irmãs: Ir. Carmem Lúcia, Ir. Maria Aparecida e a Madre Geral Ir. Maddalena Atlanásio, que mora em Napoli-Itália.  A congregação é de fundação Italiana, com o Carisma de adorar, amar Je
sus na Eucaristia, servir a Ele nos pequenos sofredores. A congregação se prepara para se instalar na Diocese, elas irão desenvolver seus trabalhos na Paróquia de Santo Antônio – Oriximiná.
              Hoje também realizei visitas a dois enfermos, Senhor Wilson, de 66 anos, e que a 10 anos se encontra enfermo e acamado, deu um AVC, e também visitei a dona Geralda, que no dia de hoje completa 59 anos, ela está a 6 anos enferma, sem poder andar. Conversei bastante com eles, escutei suas histórias, e mais uma vez fiquei incomodado em saber que ambos tiveram que fazer longas viagens para o atendimento médico.  Um amigo dessa terra me revelou que para este povo isso é normal, a dificuldade de atendimento médico, as longas viagens por um socorro, entre outros problemas, ele relatou que sempre foi assim, como eles nunca conheceram uma realidade diferente tem dificuldades em exigir algo melhor. Em contra partida, eu venho de fora, e ao ver essa situação fico indignado. Vale ressaltar  que a Constituição Federal de 1988 põe a vida como sendo o bem maior dos direitos fundamentais, preceituando em seu art. 196 que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado. E são estes direitos fundamentais que vejo tão distante deste povo. Percebo aqui três grandes problemas:  a deficiência na estrutura física, que são lamentáveis, a falta de disponibilidade de material-equipamento-medicamentos, até pouco tempo atrás até lençol faltava por aqui, além é claro a carência de recursos humanos. Em uma conversa com a prefeita de Curuá, cidade próxima de Óbidos, ela contava a grande dificuldade que a prefeitura encontra em contratar profissionais. Ela apontou como o grande desafio a falta de atrativos do município,  e a distância das grandes cidades, segundo ela os médicos não permanecem na cidade por não conseguir ter uma vida social, ela citou por exemplo que na cidade não tem shoppings, nem grandes opções de lazer. Claro que além desse fator, citado por ela, tem os outros dois fatores que já apontei como dificuldades da saúde, a deficiência física e a falta de material-equipamento-medicamento para o trabalho. E no meio de tantos a melhor solução é levar os pacientes para outras cidades, onde estes passam horas em barcos para um melhor atendimento.
             Mas se o poder público não garante o direto constitucional quero louvar aqui as iniciativas de nossa Igreja, de importantes parceiros e de toda população. Em Óbidos, uma grande corrente do bem foi feita pela melhoria do Hospital Dom Floriano (antiga Santa Casa), reforma e ampliação do hospital, campanhas de alimentos, de doação de dinheiro para compra de colchões, promoções, entre outras iniciativas demostram o empenho de muitos em buscar melhores condições para o povo dessa terra. Com toda certeza com a união da comunidade obidense essa batalha será vencida através da união e generosidade dessa gente. Mas não posso de deixar de manifestar minha indignação com o poder público.
           Antes de encerar esse dia, levei o seminarista Douglas ao porto, onde ele embarcou para sua nova missão. Ele foi enviado a cidade de Faro, onde irá realizar sua missão até o fim do ano. Deixo aqui meu agradecimento pelo tempo que passamos juntos, exatos 20 dias, e rogo a Deus que abençoe em sua nova missão.

Uma breve avaliação - Dia 01\02

"A pastoral em chave missionária  exige o abandono deste cômodo critério  pastoral: 'fez-se sempre assim'. Convido todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades." (EG 33)


Neste Domingo aproveitei que celebrei apenas na Matriz, e o Padre foi para o interior, para elaborar esse blog, dediquei quase todo o dia a ele, e consequentemente fiz uma avaliação desses meus primeiros vinte dias nessas terras paraenses, no coração da Amazônia. 
Confesso a vocês que antes de vim para cá a ansiedade era enorme, assim como o medo, as dúvidas, é sempre desafiador você deixar a margem e se lançar em águas mais profundas, comigo não foi diferente, deixar minha Arquidiocese, família, amigos, projetos, e etc foi um grande desafio. Mas durante a aproximação da viagem tive muito apoio, muito incentivo, isso foi animador, me fortaleceu para esse desafio. 
Após os primeiros dias na Amazônia já posso afirmar algumas coisas, entre elas que só se sabe o que é ser missionário na Amazônia, quem está fazendo a experiência: é tudo muito diferente do que imaginava, não dá para explicar, apenas viver, o clima é muito forte para quem vem de qualquer outra região do Brasil e as distâncias geográficas, desafiadoras, você logo descobre que você não veio para fazer coisas, mas estar com o povo, escutar, entender a dinâmica e a linguagem deles .
Na Amazônia tudo é diferente. A começar pelo clima e alimentação. Leva um bom tempo para acostumarmos com a realidade local. Realizar um trabalho missionário nessas terras exige de nós um esvaziamento total. Tudo é muito distante, a precariedade dos serviços básicos de saúde, de educação é gritante. O missionário que se dispõe a servir nessas terras deve fazer um verdadeiro despojamento, abrindo mão do conforto, da vida cômoda. Deve ser, acima de tudo, um apaixonado pelo povo pobre
e simples, pois esse o povo padece de muitas mazelas. No sudeste, temos facilidades de locomoção, de comunicação, e isso significa conforto. Para ser missionário aqui na Amazônia é preciso se despojar de tudo isso vim somente com o desejo de anunciar a Boa notícia, sem levar, cajado, duas túnicas… nada, assim como pediu Jesus. Mesmo porque aqui se caminha muito e essas coisas atrapalham a viagem. Fazer missão por aqui é, acima de tudo, evangelizar numa linguagem simples para um povo sedento da palavra do Senhor.
Foram apenas vinte dias de missão, mas foi tudo tão intenso, tão forte, tantas experiências marcantes. O pisar neste solo sagrado com os pés no chão, a simplicidade das comunidades, a alegria contagiante das pessoas, as longas viagens, o adentrar em lugares pensando que não existe seres humanos e se deparar com belos povoados, as enormes dificuldades com questões básicas, a falta de comunicação, de locomoção, os insetos, a água gelada, o forte calor, a luta pela preservação da floresta, a preocupação em formar comunidades, em está perto das pessoas, etc. Nestes poucos dias por aqui já aprendi muitas coisas, entre elas que com pouco também se vive. Que a vida acontece nos lugares mais remotos que possamos imaginar. Aprendi que a nossa Igreja tem, em cada lugar, um rosto diferente. Aprendi que também devo buscar uma fé simples, pura. Esse povo nunca sentou num banco acadêmico, mas conhecem Jesus por meio da simplicidade que se revela no cotidiano de suas vidas. A grande mudança que ainda trabalho em mim é perceber que as distâncias não são impedimentos para buscar o Senhor, e muito menos para anunciá-lo. Peço ao Senhor que continue me dando tantas graças, que eu possa continuar vivendo de maneira intensa essa grande missão que ele me confiou. Conto com as orações de todos, pois os desafios estão apenas começando.  


Em defesa da Amazônia - 31\01

"Sonho com  uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado  mais à evangelização do mundo atual que à auto-preservação. (EG 27)

Já são quase 20 dias nessa terra abençoada por Deus, e em tão pouco tempo já percebo a luta desse povo pela sobrevivência humana e dessa terra, por isso hoje resolvi partilhar essa poesia de Marcus Lucenna, poeta e cantor.  


A AMAZÔNIA É NOSSA

Vou falar da Amazônia
A terra da promissão
Que hoje o mundo cobiça
Pela sua imensidão
A biodiversidade
E a riqueza do seu chão.

A sua maior porção
Pertence a nós brasileiros
Porém, Peru e Colômbia
Tem ela nos seus terreiros
Venezuela e Bolívia
Dela também são parceiros.

Lá também vivem os primeiros
Donos deste novo mundo
Os índios a quem devemos
O respeito mais profundo
E o brasileiro cabôclo
Povo mestiço e fecundo.

Precisamos ir bem fundo
Ao tratar dessa questão
Que mexe com nossa vida
Com a nossa imaginação
Com a história e o futuro
Da nossa grande nação.

Amazônia é equação
Que temos que resolver
Se será fácil ou difícil
O tempo é quem vai dizer
É nosso dever de casa
E vamos ter que fazer.

Nós precisamos dizer
Ao mundo com galhardia
Que os povos da Amazônia
Da sua rica bacia
São os seus únicos donos
Têm dela a soberania.

Dia e noite, noite e dia
Precisamos combater
Com idéias, com ações
Senão é fácil prever
Toda essa nossa riqueza
Haveremos de perder.

Todos precisam saber
Dessa grande orquestração
Que os poderosos do mundo
Vêm movendo desde então
Pra tomarem a Amazônia
Movidos pela ambição.

Debaixo daquele chão
Tem prata,tem gipsita
Tem diamantes, titânio
Ferro, ágata, malaquita
Citrinos, molibidênio
Tem tungstênio e bauxita.

Veios de ouro e pepitas
Urânio, gás, manganês
Tem petróleo, alumínio
Potássio e digo a vocês
Onde tem tanta riqueza
O gringo nunca é cortês.

Gringo não quer ser freguês
E também não quer ser sócio
Quer meter a mão em tudo
Ser o dono do negócio
Acham que somos otários
Que o nosso povo é beócio.

Mas o sol em equinócio
Na linha do equador
Ilumina o nosso povo
Com tanta luz e esplendor
Que um povo com esse brilho
Não pode ser perdedor.

Precisamos dar valor
As forças que a gente tem
Novo colonizador
Aqui não vai se dar bem
Nós não queremos ser mais
Escravos de mais ninguém.

Na Amazônia ainda tem
Tântalo, topázio e linhito
Fluor, zinco, tório, cromo
Um território bonito
Nióbio, ítrio e as águas
Do Amazonas bendito.

Porém tem muitos conflitos
Com grileiro, com posseiro
Tem também falsos pastores
À serviço do estrangeiro
Queimadas pra criar gado
Fazendeiro e madeireiro.

Mas cabe a nós brasileiros
Puxar o mote, o refrão
Chamar os nossos vizinhos
Com bom senso e união
Pra defender nossas pátrias
Patrimônio e rico chão.

Hoje com a concentração
Das furtunas pela terra
Com a riqueza em poucas mãos
Ou a gente grita e berra
Ou pra ter a Amazônia
Teremos que entrar em guerra.

O ronco da motoserra
Fumaça e poluição
As pastagens para o gado
Matando a vegetação
Mostra que estamos errando
Na forma de ocupação.

Damos ao gringo a visão
que não sabemos cuidar
Do que eles chamam pulmão
Do mundo a fábrica de ar
É com essa conversa mole
Que eles querem nos lezar.

Precisamos implantar
A auto-sustentação
Respeitando a natureza
Porém com convicção
Que a Amazônia é nossa
E gringo não põe a mão.

No futuro a geração
Que virá depois de nós
Vai poder se orgulhar
E dizer: nossos avós
Fizeram um grande país
Não nos deixaram a sós.

Então solto minha voz
Nesse momento presente
Em nome desse futuro
Onde estará nossa gente
Se a gente fortalecer
Os elos dessa corrente.

Do peão ao presidente
Chico, Mané e Antônia
Do Oiapoque ao Chuí
De Mossoró à Rondônia
Precisamos nos unir
Pra salvar a Amazônia.

Mas se o gringo é nossa insônia
Agiremos dando duro
Rumando na caminhada
Com ninguém deixando furo
Unidos pela Amazônia
Senão, adeus bom futuro.

Lutemos até no escuro
Unidos em harmonia
Com garra, força e coragem
Enfrentando a vilania
Não daremos o que é nosso
Não queiram o que não é vosso
A nossa soberania.



Descanse em paz princesa - Dia 30\01

" Há estruturas eclesiais que podem chegar a condicionar um dinamismo evangelizador, de igual modo, as boas estruturas servem quando há uma vida que as anima, sustenta e avalia. Sem vida nova e espírito evangélico autênticos, sem fidelidade da Igreja à própria vocação, toda e qualquer nova estrutura se corrompe em pouco tempo. (EG 26)


Celebrar as Exéquias nunca foi fácil para mim sempre foi muito dolorido.
Mas celebrar uma exéquias de uma criança de 5 meses, onde a mãe tem 13 anos, o Pai no máximo 15, onde a casa é a mais simples que você possa imaginar, saneamento básico é algo muito distante,  um lugar sem condições para viver com dignidade, isso é uma dor sem tamanho.

 Motivo da morte? Diarreia. 
A criança é Batizada? Não
É Registrada? Também não
Para sociedade civil o que é? Um indigente.
Para Deus??? Uma pessoa muita amada e querida, que sofre a morte refém de uma sociedade cruel e perversa,  onde a desigualdade social é um mal que parece invencível. 
Vivemos em uma sociedade, onde há tanta modernidade e existe tanta desigualdade.
Falta consciência, vontade! Crianças de toda natureza, tem a sua infância roubada, vivem em profunda pobreza, condição sempre ignorada. Quem tem dinheiro sobrando, nada faz e finge até não ver; Fica sempre se esquivando, preferindo deixar acontecer. E nós também muitas vezes preferimos não vê, é mais cômodo, mais fácil. As redes de TV uma vez ou outro nos mostra situações de desigualdades sociais, mas dificilmente ela mostra que todos os dias em nosso país pessoas morrem por este motivo.
E hoje um anjo parte para morada eterna, lugar que Deus reservou para todos nós. Lá sim todos nós temos uma morada digna, morada que Deus preparou para todos.  Deus teve todo o carinho de preparar um belo lugar para cada um de nós, e todas as moradas são iguais, sem diferenças. 

Princesa, você parte sem ser batizada, sem ao menos ser registrada, para sociedade civil como uma indigente, para religiosos radicais irá para o inferno, ou então para o “limbo”. Mas tenho certeza que Deus te acolheu com todo o carinho de Pai, com todo amor que nós seres humanos não te demos. Saiba princesa que sua morte é fruto de uma sociedade injusta e cruel, que mata tantos todos os dias, sabe por que? Por egoísmo, por ganância, por achar que a vida terrena é eterna, que os bens são pra sempre.
 Minha princesa você é fruto de uma sociedade perversa, nem ao menos conseguimos te enxergar, nem ao menos soubemos de sua existência e muito menos te salvar.
Peço a você minha princesa, que se encontra ao lado do Pai, que rogue a Ele a misericórdia por nós.
Descanse em Paz minha princesa Larissa.








O olhar missionário dessa Igreja - Dias 27 e 28\01

"Espero que todas as comunidades se esforcem para atuar os meios necessários para avançar no caminho duma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão. Neste momento não nos serve uma simples administração. Continuamo-nos em estado permanente de missão, em todas regiões da terra." (EG 25)  


             
Neste início de semana tive a oportunidade de conhecer um pouco mais da Diocese. Fui a cidade de Curuá, na Paróquia São Raimundo Nonato, fui para a apresentação de um novo Vigário Paroquial. Conheci mais um pedacinho dessa região tão bela. Escutei muitas histórias, da origem dos municípios, das antigas tribos indígenas da origem do nome Amazônia,  diz a lenda que Amazônia deriva de amazonas, guerreiras mitológicas. Segundo lenda, as amazonas pertenciam a uma tribo comandada por Hipólita que não aceitava homens: as crianças de sexo masculino eram mortas ao nascer. Amazona significa sem seio, em grego, porque a lenda também dizia que tais mulheres cortavam o seio para melhor manejar os arcos. A lenda foi transportada para a América do Sul pelos conquistadores espanhóis, pioneiros na exploração do rio Amazonas que, ao se depararem com índias guerreiras (em contraste com a cultura européia, na qual a mulher tinha apenas funções domésticas), acreditaram terem finalmente encontrado as amazonas. Após  ouvir muitas histórias, de participar da santa missa e conhecer novas pessoas, tive a oportunidade de conhecer a Fazenda da Esperança de Óbidos, que assim como em todos cantos do Brasil e do mundo realiza esse trabalho de resgatar vidas. A Fazenda de Óbidos tem capacidade para acolher 15 jovens, atualmente acolhem 9, além de 4 voluntários. 
            Mas gostaria de destacar nestes dias a grande preocupação missionária que percebi na Diocese de Óbidos, assim como a preocupação na preservação da Amazônia. A Diocese procura fazer muitas parcerias para adquirir terras, e assim realizar a preservação ambiental na região. Infelizmente o desmatamento é uma realidade nessa região, e pouco se fiscaliza, é muito comum ao andarmos pelas estradas nos deparamos com caminhões com grandes toras de madeira, a grande maioria de maneira ilegal. E a Diocese tem essa grande preocupação, e  um dos caminhos encontrando para a preservação e adquirindo através de parcerias áreas na região, assim evita nessa área o desmatamento. 
Além de adquirir áreas para ajudar na preservação da Amazônia, a Diocese tem um olhar todo cuidadoso na formação de comunidades. Fiquei imensamente feliz em perceber isso, pois em minha região isso era algo que sempre me entristecia. Parece que no sudeste vivemos uma fase onde não se cria novas comunidades, vemos bairros surgindo, enormes condomínios, regiões se desenvolvendo, e nós não temos o olhar de garantir um espaço, de fundarmos comunidade. Muito de nós do clero, temos um discurso que primeiro deve se criar a comunidade viva, a comunidade formada por povo, para depois pensar em espaço e etc. Claro que o caminho é este, mais percebo que muitas vezes damos essa desculpa como preguiça de criar comunidades, escutei algo muito forte nessa minha visita: “Nós, sacerdotes, temos Cristo como Cabeça da Igreja, e nós nas Paróquias somos aqueles que animam, que incentivam, que puxam, sendo assim, nós temos que incentivar o povo de Deus a se organizar, a se estruturar”. Aqui na Diocese de Óbidos temos uma Igreja bem viva e atuante, que tem um olhar no futuro, que ao perceber uma localidade que aponta para um povoamento, ela logo corre e adquire um terreno. Quando começa a ter moradores ela logo incentiva a se tornar comunidade, a se reunir para oração, para os encontros, para as celebrações. Interessante perceber que estamos falando de uma região carente de Sacerdotes, mais estes não perdem o espirito missionário,  e graças a estes poucos Padres vemos uma Igreja aqui na Amazônia que cresce a cada dia, que se expande, pois consegue estar perto do povo,  mesmo sem a presença constante do Sacerdote, eles tem um espaço perto de casa para a oração, para a partilha. Vejo nessa Diocese na prática o que a Igreja hoje do Brasil nos pede “A descentralização da Paróquia e a consequente valorização das pequenas comunidades deveria ser a grande missão da Igreja que busca desenvolver a cultura da proximidade e do encontro.” (Doc 100, n 191)

Que o Senhor abençoe cada vez mais o Bispo dessa Diocese, que é um grande missionário, e consegue ter uma visão de futuro. Que nós possamos aprender com esse povo, que Igreja se constrói em comunidade. 

Não desviar o olhar da nossa Luz -Dia 26\01

"Por fim a comunidade evangelizadora jubilosa sabe sempre festejar: celebrar e festeja cada pequena vitória, cada passo em frente na evangelização. (EG 24)

Nessa segunda-feira fiquei contemplando as fotos do batismo de ontem. Um batizado tão simples, mas tão marcante, que possamos aprender com a linda Maria Elizabete. Fixar nossos olhos na grande luz, e assim, eles possam brilhar como os dela. 
Fazendo isso poderemos entender a missão que a propria luz nos deu: a missão de ser luz na cidade, no trabalho, na comunidade, na vida diária - "Vós sois a luz do mundo" (Mt 5,14). Ser luz é ser alegre, alerta, acordado, vigilante, vibrante, cheio de ardor, de fogo.
Mas para sermos tudo isso, não podemos jamais tirar os olhos da luz maior!!
Por isso contemplamos essa linda imagem.


Primeiros Batizados - Dia 25\01

"Fiel ao dom do Senhor, sabe também «frutificar» (...) Cuida do trigo e não perde a paz por causa do joio. O semeador, quando vê surgir o joio no meio do trigo, não tem reações lastimosas ou alarmistas. Encontra o modo para fazer com que a Palavra se encarne numa situação concreta e dê frutos de vida nova, apesar de serem aparentemente imperfeitos ou defeituosos. O discípulo sabe oferecer a vida inteira e jogá-la até ao martírio como testemunho de Jesus Cristo." (LG 24)

  

          Domingo é o dia que o Senhor fez para cada um de nós, por isso devemos nele nos alegrarmos.
Neste dia do Senhor pela primeira vez celebrei na Matriz da Paróquia São Martinho de Lima, as 08h, na celebração dedicada as crianças. A participação foi razoável, e tinha muitas crianças.
Neste dia os coroinhas da matriz renovação seu compromisso diante da assembleia reunida, e também foram apresentados os novos coroinhas, os iniciantes, que estarão começando o processo.
A celebração foi animada, as pessoas ficaram atentas durante a reflexão, a maneira que as pessoas me olham me chama muito atenção, um olhar de desconfiança, mais também um olhar de expectativa, eles ficam atentos a tudo que se passa, a cada palavra que eu digo, a cada gesto que eu realizo.
No fim da celebração percebi que os coroinhas ficaram muito felizes, de fato renovaram seu compromisso, e após a celebração onde fiz o convite para novos coroinhas, uma criança com sua mãe procurou demostrando a vontade de servir o altar do Senhor. Neste domingo em que fomos convidados a lançar nossas redes fico feliz em vê crianças dando seu sim a Deus, aceitando o convite de Deus para servir a sua Igreja.
           Após essa celebração fui com o Padre José Mauricio e o Seminarista Douglas para a
comunidade do Curuçamba, dedicada a São Sebastião, hoje foi o fim das festividades do padroeiro.
Chegando na comunidade, fomos bem acolhidos, o local da celebração estava lotado, hoje participou também a comunidade Cristo é o Senhor, que levaram para lá um ônibus lotado de pessoas.
Nessa celebração realizei meus primeiros batizados, foram 3 crianças, uma menina, de uns 10 meses, e dois meninos, um devia ter uns 2 anos e o outro uns 5.
A simplicidade e humildade vem me chamando muito atenção, o local da celebração já é bem simples, um local aberto, sem paredes, apenas com telhas para proteger da chuva, o chão em terra, umas 30 cadeiras para as pessoas se sentarem. Muitos ficaram em pé, dos lados , a participação na celebração foi grande, o Pe José Mauricio em sua reflexão utilizou uma linguagem simples que vez o povo compreender bem a mensagem  do evangelho.
         
  Durante o rito do batismo todos estavam atentos, não tinha fotógrafos, nem um monte de pessoas em cima das crianças para fotografar, o que deixou a rito mais leve e participativo,  todos com muita alegria acolheram esses nossos irmãos que agora fazem parte de nossa  Igreja.
As músicas cantadas sempre tem as letras voltada para a luta do povo sofrido, que busca justiça, igualdade e fraternidade, o que é algo bem vivo nessa região. Eles cantam o que eles vivem, o que eles passam. Muitas vezes escutava essas músicas em minha região, no meu lugar e não conseguia compreender a fundo o sentido da mesma, agora, com apenas doze dias no Pará compreendo o motivo e sentido dessas letras, e pelo que percebo, esse povo continuará cantando essas músicas pedindo justiça e igualdade, peço a Deus que um dia ele ilumine os nossos governantes, ilumine as pessoas que vivem no conforto das grandes cidades a de fato perceber que em nosso país existe pessoas vivendo em condições de vida precária, sem rede de esgoto, sem água tratada, sem estradas, sem  médicos, e este povo grita por justiça, por igualdade, por fraternidade.
            E no meio desses gritos, muito me alegra que este povo mesmo nessas condições são felizes, são festeiros, acreditam que dias melhores virão. Após a celebração a festa continuou, todos se sentaram em mesas para o almoço, enquanto nos serviram o prato típico do Pará, arroz, macarrão, farinha e frango caipira, percebi muitos indo no ônibus buscar comida, o povo trouxe de casa a própria comida, então começou a partilha no clima alegre e descontraído, ao som de um bom forró todos alimentavam, já abençoados e protegidos por São Sebastião.