Enfrentando desafios na alegria da missão - Dia 24\01

"A comunidade evangelizadora dispõe-se a acompanhar. Acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam. Conhece as longas esperas e a suportação apostólica. A evangelização patenteia muita paciência, e evita deter-se a considerar as limitações. (EG 24) 

                 Neste sábado após muita chuva ontem a mesma deu uma trégua, a tarde fui jurado na gincana dos coroinhas da Matriz. Mais de 30 crianças, adolescentes e jovens se dividiram em dois grupos. Unidos em Cristo e Seguidores de Jesus foram os nomes escolhidos pelas equipes. A gincana aconteceu de uma maneira simples, mais bem participativa, bem animada, com uma ótima organização da coordenação e da assessoria, o clima foi tranquilo, sem clima de disputa e sim um clima de aprendizado. A gincana faz parte das atividades do mês de janeiro dos coroinhas que estão em clima de formação. As provas foram ligadas ao serviço dos coroinhas ao altar, além da vida dos padroeiros Santa Teresinha e São Martinho de Lima. Durante a gincana tivemos dois lindos testemunhos de ex-coroinhas, que demostraram toda alegria e disponibilidade ao serviço do altar, ambos destacaram o quanto esse serviço serviu para a vida dos mesmos. No fim da gincana todos saborearam chocolates e confraternizaram, em um clima de alegria e festa.
           
            A noite fui celebrar na comunidade de São Sebastião que fica no Sucuriju, nome esse de uma cobra, e o rio da comunidade lembra o Sucuriju, por isso este nome. A comunidade estava encerrando as festividades de seu padroeiro.
        No caminho a comunidade, ao adentrar a estrada  de chão,  ao percebi tantas árvores, ao perceber que estava dentro da floresta amazônica, em um lugar que parecia que não existiria civilização, que não existiria seres humanos, fiquei pensando de como seria possível um povo resistir em povoados tão distantes da cidade. Ao conversar com o meu guia do dia, o Edinho, ele contava que estes povoados são descendências indígenas, que permaneceram firme. Fiquei pensando, como o povo é fiel as origens, são apegados aos lugares de nascença. Claro que existe outros fatores, pois muitos não saíram do povoado por não terem condição, mas por outro lado, muitos ficaram por gostar do local, por esta enraizados, e assim mantém firme a sua história, a sua origem.
         
         Cheguei no povoado antes de escurecer, e me encantei com o local, muitas pessoas já estavam presentes, a Igreja estava enfeitada, do lado de fora tinha muitas mesas, o cliper (são salões grandes, tamanho de quadra, as comunidades sempre constrói os mesmos para suas festividades)  todo enfeitado, isso já foram sinais que a festa seria grande.
     Começamos a celebração com a capela lotada, após o rito inicial saímos com a imagem de São Sebastião em procissão, como já estava planejado. A procissão aconteceu em um lugar escuro, sem luz, no meio do verde da Amazônia, a escuridão era tanta que a luz das velas que as pessoas levavam era fundamental, pois é, pela primeira vez percebi a grande importância das velas em uma procissão, era impossível caminhar sem elas. O povo seguia a imagem de São Sebastião, com hino de louvor ao padroeiro. Ao caminhar fiquei refletindo que jamais eu poderia imaginar que no meio da floresta, que no meio da nada, existiria um povo em caminhada, levando a imagem de São Sebastião e cantando dizendo que uma flecha não basta para calar a sua voz, e pedindo a proteção do Santo padroeiro. Percebi que te fato uma flecha não foi suficiente para calar São Sebastião, e que a distância, a desigualdade e a exclusão também não são suficientes para calar esse povo de Deus que se encontra dentro do pulmão do nosso planeta. Ao vivenciar essa experiência tão forte, reacendeu em minha essa chama de esperança em dias melhores, em um mundo mais justo e fraterno. Que alegria foi vê tanta
demonstração de fé, após a linda procissão, chegamos na Igreja e enfrentei pela primeira vez uma situação típica da Amazônia. O enxame de insetos. Entramos na Igreja e tinha uma quantidade de insetos que nunca vi antes. A toalha do altar estava escura de tanto inseto, tentei limpar mais não adiantava, os mesmos voltavam, senti muitos dentro de minha túnica, no meio do meu cabelo, debaixo de minha camisa, foi uma situação delicada, mas após tanta demonstração de fé, essa passaria a ser mais uma. Realizei as celebração, mesmo engolindo alguns insetos, mesmo me sentindo quase expulso por eles do presbitério, mas realizei a celebração com a mesma alegria de sempre, sem cortar nada, sem correr, enfrentando a situação, juntamente com aquele povo de Deus, que de maneira fiel permanecia na Igreja. Na hora apropriada busquei o santíssimo no sacrário, e o coloquei naquele altar, no meio de tantos insetos, neste momento me ajoelhei, me coloquei em adoração, contemplei a face de Jesus Cristo na eucaristia, e mesmo não sendo digno, me senti como Maria, que no caminho do calvário contemplou a face de Jesus desfigurado, marcado com tantas feridas. Eu naquele altar, contemplava Jesus no meio de tantos insetos, ao erguer o corpo de Cristo muitos insetos vieram à minha mão, tocaram no Corpo de Cristo, e eu com toda humildade levei Jesus Cristo até minha boca. Essa foi minha comunhão perfeita, me senti em Cristo, me senti junto com todo aquele povo presente naquela Igreja, assim como junto com todo o povo da Amazônia, que enfrenta situações assim diariamente.
                  Após a celebração a festa continuou do lado de fora da Igreja, e eu fui partilhar o alimento com o povo de Deus, arroz, macarrão, farinha um bom bife, além é claro, de muitoooos insetos.
Fui embora cedo, pois amanhã é Domingo, dia de levantar cedo. Mas antes de sair me informaram que aquele festa não teria hora para terminar. Que os devotos de São Sebastião continuaria ali até pela manhã, com muito forró e tacacá.


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