O caos da saúde pública e a esperança - Dia 02\02

"Uma identificação dos fins, sem uma condigna busca comunitária dos meios para os  alcançar, está condenada a traduzir-se em mera fantasia. A todos exorto a aplicarem, com generosidade e coragem, as orientações deste documento, sem impedimentos nem receios. Importante é não caminhar sozinho, mas ter sempre em conta os irmãos e, de modo especial, a guia dos Bispos, num discernimento pastoral sábio e realista. (EG 33)

          Segunda-feira chuvosa em Óbidos, uma chuva fina, com um ventinho gostoso....Fez-me até lembrar a temperatura de Minas, finalmente um dia por aqui sem ligar o ar condicionado do quarto.
          Neste dia de temperatura ideal para mim, pois para o povo daqui um dia bem frio, recebemos a visita do Bispo Diocesano, juntamente com três religiosas da Congregação das Pequenas Missionárias Eucarísticas, as Irmãs: Ir. Carmem Lúcia, Ir. Maria Aparecida e a Madre Geral Ir. Maddalena Atlanásio, que mora em Napoli-Itália.  A congregação é de fundação Italiana, com o Carisma de adorar, amar Je
sus na Eucaristia, servir a Ele nos pequenos sofredores. A congregação se prepara para se instalar na Diocese, elas irão desenvolver seus trabalhos na Paróquia de Santo Antônio – Oriximiná.
              Hoje também realizei visitas a dois enfermos, Senhor Wilson, de 66 anos, e que a 10 anos se encontra enfermo e acamado, deu um AVC, e também visitei a dona Geralda, que no dia de hoje completa 59 anos, ela está a 6 anos enferma, sem poder andar. Conversei bastante com eles, escutei suas histórias, e mais uma vez fiquei incomodado em saber que ambos tiveram que fazer longas viagens para o atendimento médico.  Um amigo dessa terra me revelou que para este povo isso é normal, a dificuldade de atendimento médico, as longas viagens por um socorro, entre outros problemas, ele relatou que sempre foi assim, como eles nunca conheceram uma realidade diferente tem dificuldades em exigir algo melhor. Em contra partida, eu venho de fora, e ao ver essa situação fico indignado. Vale ressaltar  que a Constituição Federal de 1988 põe a vida como sendo o bem maior dos direitos fundamentais, preceituando em seu art. 196 que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado. E são estes direitos fundamentais que vejo tão distante deste povo. Percebo aqui três grandes problemas:  a deficiência na estrutura física, que são lamentáveis, a falta de disponibilidade de material-equipamento-medicamentos, até pouco tempo atrás até lençol faltava por aqui, além é claro a carência de recursos humanos. Em uma conversa com a prefeita de Curuá, cidade próxima de Óbidos, ela contava a grande dificuldade que a prefeitura encontra em contratar profissionais. Ela apontou como o grande desafio a falta de atrativos do município,  e a distância das grandes cidades, segundo ela os médicos não permanecem na cidade por não conseguir ter uma vida social, ela citou por exemplo que na cidade não tem shoppings, nem grandes opções de lazer. Claro que além desse fator, citado por ela, tem os outros dois fatores que já apontei como dificuldades da saúde, a deficiência física e a falta de material-equipamento-medicamento para o trabalho. E no meio de tantos a melhor solução é levar os pacientes para outras cidades, onde estes passam horas em barcos para um melhor atendimento.
             Mas se o poder público não garante o direto constitucional quero louvar aqui as iniciativas de nossa Igreja, de importantes parceiros e de toda população. Em Óbidos, uma grande corrente do bem foi feita pela melhoria do Hospital Dom Floriano (antiga Santa Casa), reforma e ampliação do hospital, campanhas de alimentos, de doação de dinheiro para compra de colchões, promoções, entre outras iniciativas demostram o empenho de muitos em buscar melhores condições para o povo dessa terra. Com toda certeza com a união da comunidade obidense essa batalha será vencida através da união e generosidade dessa gente. Mas não posso de deixar de manifestar minha indignação com o poder público.
           Antes de encerar esse dia, levei o seminarista Douglas ao porto, onde ele embarcou para sua nova missão. Ele foi enviado a cidade de Faro, onde irá realizar sua missão até o fim do ano. Deixo aqui meu agradecimento pelo tempo que passamos juntos, exatos 20 dias, e rogo a Deus que abençoe em sua nova missão.

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